O
ser humano vem fazendo música há muito tempo. Provas arqueológicas citadas por
Menhuin e Davis (1990) sugerem que o homem primitivo usava tambores, flautas e
ossos como instrumentos musicais, muito antes da Era Glacial. Os autores também
afirmam que não se tem conhecimento a que se destinavam esses instrumentos de
300 séculos atrás, embora seja possível imaginar que eram utilizados em cerimônias
e rituais, sacros e profanos. O homem primitivo comunicava-se por meio de sons
e silêncios que traduziam informações objetivas,mas que provocavam também
sentimentos e emoções.
De acordo com Brito
(1998), no decorrer do processo de construção de cada cultura específica, o ser
humano transformou em linguagem expressiva a relação (inicialmente utilitária e
funcional) com o fenômeno sonoro, chegando à denominação atual do termo música
como jogo de organização e relacionamento entre som e silêncio que acontece no
tempo e espaço. Para a autora, a música é a “alquimia” que organiza sons de
diferentes qualidades (graves ou agudos, curtos ou longos, fortes ou suaves,
com texturas diversas), gera formas sonoras que expressam e comunicam emoções,
sensações, percepções e pensamentos que refletem o modo de sentir, perceber e
pensar de um indivíduo, de uma cultura ou época. É por isso que diferentes
povos ou culturas possuem um repertório musical específico, cada um diferente
do outro, assim como existem, na história da música, diferentes estilos e
formas de composição.
Ainda segundo Brito
(1998), a música é uma forma de linguagem que faz parte da cultura humana desde
tempos muito remotos. Ela faz parte do conhecimento humano, é uma forma de
expressão e comunicação e se realiza por meio da apreciação e do fazer musical.
Entre as características da linguagem musical, é possível destacar o caráter
lúdico, ressaltando-se que a música é um jogo de relações entre sons e
silêncios; a existência de diferentes sistemas de composição musical; que o
ruído pode ser, também, material musical e que a idéia musical é autônoma, pois
nada expressa além de si mesma, comunicando informações objetivas.
Seguindo
o pensamento de Brito (1998), é importante notar que as canções, brinquedos de
roda, parlendas, trava-línguas sempre foram partes fundamentais do ato de
brincar, do processo de formação da criança e da cultura infantil. Mesmo que o
ambiente tenha mudado em função das novas tecnologias, é possível afirmar que a
música sempre esteve presente na vida das crianças e, de certa forma, no seu
processo de educação.
Entre os povos primitivos,
a prática do ensinamento musical estava nas mãos de músicos especialistas
capazes de transmitir os segredos de seu ofício para aqueles indivíduos a quem
deveriam passar o cargo. Nessas sociedades primitivas, a música ocupou sempre
um lugar de destaque e era considerada um veículo importante para que a
comunidade e os indivíduos pudessem manifestar seus estados de ânimo e
acompanhar, por conseguinte, o trabalho, os cultos religiosos e as festividades
sociais.
Nas
antigas civilizações (chinesa, persa, hebraica), a música desempenhou uma
função social e educativa com um grau de importância variável, ora para mais,
ora para menos. Entre os gregos, a música alcançou um esplendor e uma
importância inexistentes em qualquer outro povo. Entre eles houve uma clara
consciência da necessidade de difundir a prática musical no seio da sociedade.
A Grécia ofereceu para a história da humanidade um exemplo de como deveria ser
considerada a educação musical: a música, que era ensinada desde a infância,
era considerada um fator essencial na formação dos futuros cidadãos. Segundo
Gainza (1964), para os gregos, a música educava e era a chave de uma filosofia
pedagógica que, infelizmente, não tem se mantido viva ao longo das épocas e
que, por isso, é preciso, periodicamente, ser redescoberta.
Na
história da música do ocidente foi Guido D’Arezzo, um monge beneditino, quem
primeiro se destacou por suas virtudes pedagógicas. Foi o criador de muitos
recursos para o ensino da leitura e da escrita musical, muitos dos quais são
usados até hoje. Ao longo da Idade Média, a educação musical esteve a cargo de
monges e era realizada dentro dos mosteiros. Mais tarde, se organizou no
ambiente das grandes catedrais e, junto com a aritmética, a geometria e a
astronomia, expressou o espírito religioso da época.
No
Renascimento, em especial durante a Reforma, houve necessidade de popularizar o
ensino da música. A criação das escolas públicas e, por conseguinte, a extensão
dos benefícios da cultura a um número maior de indivíduos ocasionaram nova
estruturação à educação musical. Os métodos de ensino de música foram revisados
porque era preciso agilizar o ensino a fim de que o conhecimento e a prática
musical fossem acessíveis às pessoas comuns e não somente aos músicos.
Luteranos e calvinistas concordavam em planejar uma educação musical para todas
as crianças e jovens como na antiga Grécia.
Na
história da educação musical é possível observar ciclos que se alternam: a um
período de investigação e criação pedagógica, sucede-se outro de decadência e
abandono. Para Gainza (1964), na educação musical há a convergência de duas
tendências opostas: o racionalismo e o sensorialismo, que dão primazia à teoria
e à prática musical respectivamente. Com o transcorrer do tempo, essas
tendências assumem direções extremistas que ignoram por completo tudo que foi
produzido segundo uma outra tendência. Nesse sentido,
racionalismo e sensorialismo puros em música conduzem a um empobrecimento que
afeta profundamente o ensino: é tão nocivo ensinar teoria musical desvinculada
da realidade sonora, quanto preparar os alunos para a execução vocal ou
instrumental, sem relacionar essa prática com os fundamentos da arte musical.
De acordo com as pesquisas
de Gainza (1964), Rousseau, no século XVIII, é o principal representante de uma
inquietude pedagógica no campo musical. Ele compôs numerosas
canções para crianças e um de seus maiores objetivos foi difundir e popularizar
a educação musical. A pedagogia musical se desenvolveu na França e apareceram
novas correntes racionalistas dentro do campo da educação musical. E, como
reação contra o intelectualismo, tendência essa que caracterizou o racionalismo
do século XIX, aparecem os métodos ativos, como, por exemplo, o método
Montessori, cujas raízes têm por base a linha de pedagogias sensoriais
iniciadas por Komenski e Rousseau e continuada por Pestalozzi (1745-1827) e
Froebel (1782-1852). As idéias desses autores influenciam também o ensino da
pintura, das artes plásticas, da literatura e da música, abandonando as
tendências tradicionalistas.
Gainza
(1964) afirma que, à medida que o círculo da educação geral e da cultura
atingem um número maior de indivíduos, torna-se mais urgente a necessidade de
reformular os métodos de ensino, de maneira que o conhecimento seja acessível a
todas as pessoas, incluindo aquelas que não possuem habilidades especiais para
a música. Os métodos tradicionais caíram em desuso quando houve tendência à
popularização do ensino de música, e, sem dúvida alguma, isso aconteceu porque
eles eram elaborados e dirigidos para indivíduos reconhecidos como "bem
dotados".
Com o avanço do
conhecimento psicológico, que chegou a desvendar com profundidade a
personalidade infantil, a pedagogia musical moderna encontra-se hoje em
condições de permitir pesquisas em bases mais sólidas. Os pedagogos musicais
recorrem a novas idéias e as colocam em prática. A maioria dos métodos de
educação musical parte de uma concepção mais completa e real da criança e quase
todos, reconhecendo a importância do ritmo como elemento ativo da música, dão
prioridade a atividades de expressão e criação. O que se vê, diz Gainza (1964),
é uma revitalização do ensino musical. Os métodos apresentam uma forma de
ensinar a música, de maneira que ela, sem perder a qualidade, possa resultar
numa atividade prazerosa e atrativa para a criança.
(Texto retirado do Projeto
Pedagógico do Curso)
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