quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A EDUCAÇÃO DO DIA A DIA


A EDUCAÇÃO DO DIA A DIA
Suportes visuais para crianças com autismo

Pernille Dyrbjerg and Maria Vedel
Introdução de Lennart Pedersen
Publicado por Jessica Kingsley Publishers London and Philadelphia 2007

Tradução e adaptação de Maria Elisa Granchi Fonseca (2009)

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                Este material apresenta dicas, suportes e estratégias para crianças com autismo em termos de apoios visuais, clareza e estrutura. É baseado no trabalho integrado entre os autores– Pernille Dyrbjerg e Maria Vedel – a partir do trabalho com famílias e profissionais do Centro para Autistas na cidade de Copenhagen. Pernilleé mãe de uma criança com autismo e professora especializada na área. Maria Vedel passou grande parte de sua vida profissional em um serviço de orientação de pais de crianças. Juntas, as duas tentaram simplificar a linguagem sobre os conceitos do autismo na esperança de torná-los compreensíveis e acessíveis a todos os leitores. Apesar de este material ser destinado basicamente para pais e familiares, ele também oferece instruções valiosas para profissionais que trabalham com crianças autistas servindo de inspiração para a criação de espaços e propostas.
Apoios visuais são meios altamente eficazes para aprimorar a comunicação e a independência de pessoas com autismo, pois estes indivíduos freqüentemente têm dificuldades básicas de compreender adequadamente a língua falada e sinais sociais como postura corporal, gestos e contato visual. Nós, adultos, ao nos comunicarmos com estas crianças devemos nos expressar via objetos, figuras, fotos, imagens em geral ao invés da exclusiva palavra falada e das expressões não verbais. Nós devemos tentar essa comunicação de forma mais simples e mais clara usando tais apoios. Por exemplo, ao invés de usar cinco frases longas para explicar que estamos indo ao shopping, uma foto ou figura pode reunir em uma única imagem todas as informações que a criança autista precisa para absorver a mesma mensagem.
O apoio visual (seja este na forma de diagramas, agendas, cartões comunicativos, lembretes, etc.) precisa ser tão simples que até mesmo pessoas não-autistas possam compreender seu significado. Se nós não compreendermos estas mensagens nós não podemos esperar que a criança autista também faça isso. Também é preciso ter em mente que estas crianças não podem perder muito tempo na vida sem um sistema comunicativo e os apoios visuais parecem surtir efeitos rápidos quando usados de forma adequada e significativa.
Lembre-se que este sistema não é comunicação real até que passe a ser de fácil acesso e tenha função para a criança e para as pessoas ao seu redor. Enquanto estava preparando um álbum de comunicação e rotina, Dicte, filha de Pernille, disse: “estes são os meus sinais. Antes de eu ter essas imagens tudo o que eu fazia era chorar”.
Em todas as idades e estágios de desenvolvimento, para adolescentes e adultos, o apoio oferecido pelos sistemas visuais tem um grande e forte impacto. No entanto, a forma e o tamanho destes sistemas podem variar. A criação de um ambiente sinalizado é baseada em princípios educacionais e podem favorecer desde o conhecimento sobre a rotina do dia até incentivar a aquisição da leitura. Ao organizar um processo de orientação visual, pais e profissionais devem entender que ajustes podem ser necessários entre os ambientes do lar e da escola;
No dia a dia, o suporte visual passa a ser usado pelos pais a partir do momento em que estes confirmam suas vantagens. É comum observar que pais só optam pelo uso destes recursos quando seu filho autista atinge um nível alto de comportamentos inadequados e já não conseguem controlar esta problemática. Um dos argumentos que tanto pais quanto educadores usam com freqüência contra estes procedimentos é que o uso destes apoios leva a uma rigidez ou a uma dependência dos recursos. Também é comum ouvirmos profissionais argumentarem que o uso de uma rotina estruturada pode acabar reforçando a resistência ás mudanças e que as imagens acabam por inibir a fala. Mas a prática demonstra que estas coisas não acontecem. O objetivo dos sistemas visuais é ajudar a criança a ter um melhor entendimento da rotina do dia a dia e comunicar suas necessidades. Assim como todo mundo, pessoas com autismo são diferentes entre si: alguns precisam de estimulação e atividades constantes enquanto outros preferem uma rotina menos dinâmica e passiva; alguns compreendem melhor sistemas organizados com fotografias, enquanto outros precisam do objeto real para compreender a mensagem; muitos preferem pictogramas, outros já usam listas escritas por já estarem alfabetizados.
Estes sistemas podem ser úteis para ajudá-los na organização do dia, para lembrá-los sobre eventos que estão por vir, indicar a sequencia de uma tarefa e também na instalação de dicas sociais. Mas apesar de sua grande utilidade, o uso destes recursos não deve ser visto como uma única forma de tratamento, mas como uma estratégia de trabalho complementar; Na maioria dos ambientes educacionais já se espalhou o uso de uma técnica conhecida por TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication Handicapped Children). Trata-se de um conjunto de procedimentos e recursos que desenvolve uma narrativa coerente de como se podem incluir apoios visuais no que denominam de “educação estruturada” e que envolve elementos importantes para o tratamento do autismo. Sistemas visuais também são cruciais no PECS (Picture Exchange Communication System) e também em outros métodos que usam a interação intensiva entre formas variadas de linguagem.
Na opinião das autoras não importa qual método ou sistema está sendo priorizado no tratamento de autistas. O uso da visualização e os apoios sempre serão importantes e sempre trarão vantagens para a criança e não deveriam ser ignorados.
Por Lennart Pedersen
Clinical Psychologist, Centre for Autism
www.centerforautisme.dk






























Prefácio:

Ao escrever este material nós esperamos preencher uma lacuna na literatura disponível, mas também inspirar outras pessoas a usarem suportes visuais e apoios estruturados para reduzir problemas que crianças autistas vivenciam na vida diária. Aqui, oferecemos muitos exemplos de dicas visuais usadas na vida de Dicte, filha de Pernille. Estes apoios estão ajudando Dicte desde que ela tinha 3 anos de idade e continuam sendo usados até hoje quando ela está com 7. Os suportes foram sendo modificados ao longo do desenvolvimento de Dicte e na medida em que seu nível de compreensão e comunicação foi se aprimorando. Também é possível encontrar exemplos usados por crianças cujo desenvolvimento de alguma maneira difere do de Dicte. Escolhemos exemplos que, em nossa experiência, destacam partes significativas da informação a ser comunicada e assim, ajudar a criança com autismo a obter um entendimento maior em cada situação.
                Usando estes exemplos, esperamos mostrar uma variedade de apoios e dicas visuais possíveis, pois em nossa crença tais recursos são ferramentas importantes para a família e para os educadores que acompanham a criança. Torcemos também para que esta leitura sirva de inspiração para qualquer pessoa que tenha interesse e motivação para começar e que outros familiares tais como irmãos, avós e amigos próximos também achem utilidade em nosso material.
por .Pernille Dyrbjerg  e Maria Vedel


























INTRODUÇÃO

Sobre o autismo:

Autismo é definido como uma desordem severa do desenvolvimento caracterizada por déficits na comunicação e linguagem, problemas com comportamento social, além de condutas repetitivas e estereotipadas. A síndrome de Asperger é freqüentemente relacionada como uma forma branda de autismo, mas é mais cauteloso dizer que se trata de um autismo em pessoas com um nível de inteligência normal e quando não se observa atraso na aquisição da linguagem inicial.
Crianças com autismo e também aquelas com Asperger apresentam  os mesmos déficits psicológicos e os princípios educacionais para ambos os quadros são similares. O autismo não tem cura, mas muitas das dificuldades podem ser aliviadas pela educação tendo como ponto de partida o destaque e a clareza de aspectos essenciais da informação que se pretende passar á criança. Os apoios visuais são partes óbvias escolhas para isto.
A necessidade de informações claras ocorre em situações em que todos nós experimentamos. A maioria das pessoas espera instruções claras e concisas quando alguém lhe passa direções ou quando usa um mapa rodoviário. Precisamos de um guia turístico para nos indicar onde visitar ou como se portar diante de uma nova cultura ou país; e nós também usamos manuais ou guias para conhecermos o funcionamento de um equipamento novo. No entanto, quando o alvo comunicativo é uma criança com autismo, a necessidade de dicas visuais é infinitamente maior. Ela precisa de instruções claras que a oriente por onde começar e como terminar as mais simples situações do dia a dia: um guia para compreender o mundo social e um manual de orientação sobre a rotina do dia e útil para funções como vestir-se, despir-se, tomar banho, etc.
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Considerações sobre as consequências psicológicas e sociais do autismo:

A criança autista tem dificuldades para ver a imagem como um todo e, por conseguinte sempre se foca nos detalhes. Para ajudá-la a entender e reagir, é importante usar imagens que representem a essência da informação. Por exemplo, isso pode ser feito organizando o ambiente físico, por meio de uma agenda ilustrada ou mural de comunicação.

Prever a seqüência dos eventos e atividades também é difícil no autismo e sendo assim, listas previsíveis como uma agenda diária indicando o que vai acontecer e a ordenação visual das atividades a serem feitas são recursos muito funcionais por suprirem essa falha.

A criança autista também pode ter dificuldades em transferir (generalizar) experiências de uma situação para outra. Oferecer um sistema visual pode ajudar na independência em diferentes situações.

A criança autista pode ter dificuldades em compreender a linguagem falada – palavras que são compreendidas em um contexto podem não ser em outros, a não ser que ela tenha boas habilidades lingüísticas ainda que não fale. É neste contexto que os recursos adaptativos visuais orientam a compreensão da linguagem a ponto de incentivar a compreensão das palavras mais rapidamente, pois estabelece uma conexão entre o que se houve e o que se vê.

A criança autista pode ter problemas para compreender conteúdos emocionais, isto é, compreender e interpretar o que outras pessoas pensam, sentem e supõem. Por isso, situações estruturadas podem ensinar a criança como se comunicar e interagir socialmente, identificando os códigos sociais implícitos nas situações.


I.              O ARRANJO FÍSICO DO AMBIENTE:

Uma criança que não consegue compreender as conexões e significados de seu mundo freqüentemente cria sua própria regra como, por exemplo, querendo assistir a mesma parte de um DVD ou demonstrando grande interesse em algo muito específico. Neste caminho, a criança tenta lutar contra o caos criado pela sua própria previsibilidade.
A proposta de um ambiente claro e estruturado é limitar este caos tanto quanto for possível e torná-lo mais fácil de ser compreendido para que a criança entenda o que está para acontecer. A estrutura física precisa ser simples com mensagens óbvias relacionadas com o que deve ser feito e em qual lugar. Se possível, é útil ter lugares diferentes para tarefas diferentes, ou seja, o lugar para o almoço sempre será a cozinha; trocar de roupa, sempre no quarto; assistir DVD sempre na mesma sala, etc. Em uma escola ou instituição, o mesmo ambiente é normalmente usado para muitas atividades diferentes por falta de espaço físico suficiente. Para compensar esta situação, o educador pode colocar um tapete ou colchonete no chão sempre que a criança for brincar variar cores de toalhas nas mesas para sinalizar mudanças de tarefas, usarem copos de tamanhos diferentes para bebidas diferentes, etc.
                Muitos autistas não conseguem permanecer focadas naquilo que estão fazendo e uma imagem ou objeto pode lembrá-los a manter-se na tarefa. Com a atenção assegurada eles se poupam das interrupções ou ações impulsivas.

Posicionando a agenda diária: a agenda diária de Dicte foi colocada em uma área central da casa por ser de fácil acesso e alertar para qualquer mudança.

Suporte visual para alimentação: os momentos de alimentação ficaram muito mais práticos e fáceis para Dicte a partir do momento em que seu nome foi colocado em uma cadeira junto com uma figura indicativa de “comer”. Inicialmente a figura foi apresentada a ela para que pudesse ser manipulada e sugerisse que a hora de se alimentar seria a próxima atividade e também para ensiná-la a emparelhar com uma figura idêntica que estava em sua cadeira.

Quarto: a clareza e a estrutura feita no quarto de Dicte fizeram com que ela se sentisse mais segura e não menos confortável do que qualquer outra garota. Os brinquedos foram colocados em caixas com fotos identificadoras. Muitos estímulos visuais ao mesmo tempo podem criar um “barulho visual” e potencializar o caos. Pode ser mais fácil selecionar um brinquedo olhando para uma foto do que fazer a escolha de um item misturado com tantos outros. Estantes abertas com muitos brinquedos podem confundir muitos autistas e fazem com que a escolha fique quase sempre no mesmo item. Quando as figuras passaram a identificar as caixas e gavetas, Dicte passou a permanecer mais tempo em seu quarto brincando, pois a organização promoveu a estrutura que ela tanto precisava. Uma cortina transparente foi colocada na porta de entrada do quarto. Dicte não gostava de portas fechadas, mas é importante que se tenha algum tipo de limite entre o quarto e outros cômodos da casa. Esse recurso possibilitou para a criança ouvir onde os adultos estavam enquanto brincava em seu espaço.
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Hora de dormir: quando Dicte era menor, era muito útil para ela fazer a checagem da hora de dormir mediante o emparelhamento de duas figuras iguais (“cama”). Uma ficava em sua agenda no centro da casa, e a outra colocada próxima de sua cama. Ela então sabia que estava indo dormir e não brincar ao entrar no quarto. Atualmente, ela não precisa mais emparelhar as figuras, mas pediu para que o cartão ficasse em sua cama.

Espaço sob a escada (ou outra área da casa): é uma boa idéia criar um espaço de lazer em uma parte da casa para a criança que quer ou precisa estar perto dos adultos. Neste espaço, a criança pode ter seus brinquedos organizados e brincar sozinha enquanto os pais podem levar adiante suas tarefas sem perdê-la de vista. Também pode ser colocado um limite visual (como uma fita adesiva colorida ao chão) para encorajar a criança a ficar dentro desta área designada.

Ajuda para lembrar para onde se está indo (transições): você pode ajudar a criança a lembrar para onde ela está indo fazendo com que ela segure uma figura ao começar uma nova atividade. Ao chegar ao destino, esta figura é colocada junto com outra figura igual que já está fixa (emparelhadas). Este recurso facilita a concentração e descarta outros estímulos que possam interferir na rota.

II.             A AGENDA:


O objetivo de uma agenda diária é tornar o dia mais compreensivo para a pessoa com autismo. Esta agenda irá enfatizar o que acontecerá em uma seqüência do dia ou indicar possíveis mudanças na rotina: nós vamos visitar a casa da vovó ou a casa da madrinha? Vamos ao shopping ou ao dentista? É hora de brincar ou de assistir televisão? A agenda é o recado do adulto para a criança sobre o que irá acontecer ao longo do dia. A criança que não tem esta informação tentará fazer seus próprios planos. Isto pode criar incertezas e frustrações para a criança quando o que foi programado por ela não coincide com o que o adulto programou. Para selecionar os cartões que irão para a agenda, é preciso saber como a criança irá lidar com o material (por ex: que tipo de estímulos reconhece?). Sendo assim, uma criança que é muito ansiosa deverá ter uma agenda que inicie com poucos estímulos (não mais que duas peças de informação por vez), pois a visuallização de muitas atividades ou tarefas pode fazer com que ela retire os cartões, manipule no momento errado, ou fique mais ansiosa ao verificar que só no final da tarde irá para a aula de natação. Com o tempo, você irá colocando mais informação, item por item, até completar uma rotina completa. Por outro lado, temos crianças que já conseguem, desde o princípio, lidar com uma agenda diária que ilustre todos os passos da manhã até a noite.
                A agenda diária pode contem os seguintes estímulos: objetos, fotografias, desenhos, figuras, escrita, calendário, etc. A forma a ser escolhida irá depender daquilo que fizer mais sentido para a criança, pois autistas podem precisar de diversas formas de comunicação ao longo da vida e o mais importante é que o sinal tenha significado para o usuário. A informação deve sempre ser oferecida usando o meio usual da direção da escrita (da direita para a esquerda/ de cima para baixo).
                O uso da agenda pode ajudar a criança autista a se manter informada sobre a rotina de forma independente e em muitas situações é mais funcional saber o que será feito a seguir do que receber “surpresas” que podem gerar condutas inadequadas.

Manuseando a agenda:
                É preciso estar claro para a criança quais itens da sua agenda já foram cumpridos e para isso é importante ativar algum mecanismo que ofereça esta dica para que se tenha esta referência. Isso pode ser feito retirando o cartão do que ela já fez (e colocando em um depósito só para isso, como uma caixinha ou envelope), virando o cartão ou riscando o item com um “X” (em caso de agenda escrita).


Usando objetos concretos:
                Crianças autistas pequenas e aquelas que ainda não discriminam imagens são beneficiadas pelo uso de agendas com objetos (concretas). Uma criança é preparada para usar um objeto como mediador da comunicação primeiramente sendo apresentada ao item ao mesmo tempo em que este é usado na ação ou tarefa. Por exemplo: um sabonete é mostrado para a criança ao mesmo tempo em que se dirige ao banheiro para o banho. Não devemos mostrar o sabonete sem que haja uso para ele pois isso gera confusão na questão da função do objeto para a criança. O uso de objetos reais é muito útil para demonstrar e clarificar a mensagem deixando a criança usar dois sentidos ao mesmo tempo: olhar para o item e tocá-lo a fim de conhecer suas características físicas. Como Dicte já reconhecia figuras, sua primeira agenda foi muito simples. Ela retirava a imagem da agenda e se dirigia até a atividade para executá-la. Chegando ao ambiente, este cartão era colocado em uma cesta e a tarefa estava pronta para começar.

A agenda móvel: uma agenda pode ficar tanto fixa (na parede, geladeira, portas, etc) quanto ser móvel. A agenda móvel tem a facilidade de poder ser levada para qualquer lugar sendo que o conteúdo será ajustado ao ambiente e função. Pode ser confeccionada como uma faixa de papelão plastificada, os cartões podem ser colocados em sequência e presos por um anel de chaveiro ou mesmo colocados em um álbum. Para crianças que já possuem um nível de leitura, você poderá usar palavras escritas como em um diário normal.

Pausas: para muitos autistas, pode ser difícil não ficar atarefado ou ocupado com alguma coisa, mas sabemos que pausas ao longo do dia são fundamentais para o relaxamento e descanso. Usando alguns estímulos, a noção de “parar” e “descansar” pode ser indicada por meio de imagens como TV, sofá, cama, rede, rádio, etc.

A agenda escolar de Dicte: Dicte gosta de saber se é dia de aula ou não. Ela não tem a agenda escolar semanal completa de uma vez, mas somente um dia por vez. Este meio faz com que ela não gaste energia à toa tentando se lembrar do curso de uma semana inteira.

A agenda semanal: muitas crianças autistas precisam saber quando as coisas acontecerão ao longo de uma semana, Para evitar que fiquem perguntando a todo o momento sobre determinada aula, passeio ou atividade, o uso de uma agenda semanal pode facilitar esta compreensão. Você pode usar um calendário ilustrado ou mesmo deixar uma agenda já pronta com itens que acontecerão de segunda a domingo.

A agenda anual: todas as famílias têm aniversários, festas, férias e feriados que precisam ser considerados. Uma agenda anual oferece uma visão geral de todos estes eventos e mudanças de estações. A agenda de Dicte tem indicações coloridas para que ela possa acompanhar as mudanças nas estações do ano. Uma flecha é colocada para destacar o ano, o mês e o dia em que o evento acontecerá.

III.            A PREPARAÇÃO PARA OCASIÕES ESPECIAIS:


Quando a criança passa a receber as informações via apoio visual torna-se mais fácil prepará-la para eventos especiais que poderiam ser difíceis de comunicar por outro sistema como uma viagem de férias, período natalino, funerais, aniversários, etc. Pode ser mais fácil levar uma criança autista a novos lugares sem preparação prévia quando esta ainda é pequena, mas conforme vai crescendo suas demandas para compreender o que passa ao seu entorno também aumenta. Ocasiões inesperadas podem exigir mais preparo do que aquelas que já estão rotineiramente dispostas em sua agenda. É importante que se coloque em uma agenda de férias, por exemplo, quantas noites a família ficará fora de casa ou em outra cidade, ou indicar quanto tempo ainda resta para a chegada de um parente ou para a festa de Natal. Se a criança tem mais sensibilidade auditiva e se desorganiza com barulhos, é importante avisá-la que haverá alguém tocando órgão na igreja ou que na festa da escola haverá uma banda tocando.

Outros usos para a agenda: diante dos exemplos colocados, é possível variar o uso das agendas nas mais diferentes situações. Você pode usá-la para sinalizar uma visita, uma noite fora de casa, uma viagem, o que vai acontecer na festa de aniversário (por exemplo: convidados chegando, abrir presentes, guardar presentes, comes, bebes, parabéns, etc.)

IV.            ORIENTAÇÃO PARA A AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES:

Crianças sem autismo frequentemente aprendem novas habilidades ao se compararem e imitarem outras crianças. Mas muitos autistas não mostram iniciativa para a aprendizagem de coisas novas e precisam de ajuda e mais experiência para obter independência. Uma vez aprendido o conceito de “primeiro isso, depois aquilo” obtido por meio do uso da agenda você pode transferir este recurso para ensinar outras habilidades. Figuras ou objetos estão organizados em uma ordem cronológica e temporal na agenda e esta forma de indicação poderá ser usada, por exemplo, para ensinar os dias da semana, os meses, as letras do alfabeto, etc. Pode ser difícil para o autista relacionar experiências de uma situação para outra. Usando os sinais visuais a criança é guiada a se tornar mais flexível. Adiar uma atividade ou situação desejada é difícil para qualquer pessoa. Por isso, a visualização do que se espera pode reduzir a frustração e a ordem “primeiro tomar banho, depois assistir o DVD” pode ser mais tranqüila de ser obedecida. Quando Dicte aprendeu que as ilustrações indicavam a ordem das coisas, foi possível organizar vários momentos do dia. Em seu álbum, existem nove páginas dedicadas à hora da piscina. Muitos autistas gostam de piscina, mas parece ser difícil para eles lidarem com detalhes do tipo tomar a ducha antes de entrar, passar protetor solar, colocar a bóia e sair da água. Para Dicte, o uso destas ordens transformadas em imagens funcionou.
Também o uso deste sistema foi eficaz para ensinar Dicte a trocar de roupa sozinha. Para muitos autistas, a situação mais difícil neste momento é se organizar na ordem de colocação das vestimentas. Colocando as roupas em ordem e as imagens da direita pra esquerda, ela aprendeu que primeiro se veste a meia pra depois colocar o sapato (generalizando o conceito de primeiro isto, depois aquilo). Idem para a situação de lavar ou não os cabelos durante o banho e organizar uma receita culinária. A partir do procedimento denominado “análise de tarefas”, cada passo da receita foi ilustrado de forma que Dicte conseguir ajudar na preparação de bolos, panquecas, salada de frutas e também organizar a mesa para as refeições. Assim, pensando na receita do bolo de chocolate, uma imagem para cada etapa foi criada e disposta á vista de Dicte (pegar os utensílios – quebrar dois ovos – duas colheres de fermento – 2 copos de leite,etc.)

V.             ATIVIDADES ESTRUTURADAS:

As imagens a seguir mostram caminhos para a estruturação de atividades que permitirão a criança com autismo se ocupar de forma independente por períodos de tempo. Nem todas as crianças precisam de tamanha estrutura, mas todas podem aprender a usá-las. Os aspectos importantes são a organização física e disposição dos itens em caixas, cestas, pranchas, pastas, e que sejam atividades motivadoras e fáceis para a criança. O objetivo da atividade não é simplesmente aprender algo novo, mas executar algo que já saiba fazer sem a supervisão de um adulto. Para se ensinar uma nova tarefa, o adulto precisa estar por perto para poder orientar e guiar de forma a obter sucesso. A razão para a organização do material em recipientes próprios é para que o volume de atividades ou jogos não seja tão estimulador para a criança e que os itens já usados possam ser guardados novamente a fim e evitar a distração. Se a criança não quiser executar ou resistir, pode ser por causa da dificuldade da tarefa sendo difícil a execução sem ajuda, Se de início a criança não puder enxergar a proposta da atividade, você poderá colocar algo extremamente motivador na última caixa ou cesta – como um filme favorito, o brinquedo que mais gosta ou uma barra de chocolate- funcionando como reforço. Quando a criança já tiver entendido a forma de trabalhar e o adulto se lembrar de variar as tarefas sem necessariamente torná-las mais difíceis, este tipo de procedimento pode ser muito relaxante. Muitas crianças aprendem a se manterem sentadas por mais tempo quando são orientadas a seguir uma seqüência de atividades interessantes.
Você pode arrumar um espaço na sala ou no quarto com uma pequena mesa para a criança executar as tarefas. Em cada caixa, deixe separado um número limitado de jogos ou atividades. A ordem do trabalho está sendo demonstra em um mural fixo na mesa usando para isso, itens ilustrados ou numéricos dispostos na sequência. Primeiro a caixa número 1 será usada; depois a etiquetada com o número 2 e finalmente a de número 3. Os cartões com os números (ou cores, ou figuras) estão colocados na mesa com velcro de forma que a criança pode fazer o emparelhamento na busca de qual caixa corresponderá ao item que está em sua mesa.

ATIVIDADES FUNCIONAIS PARA CRIANÇAS AUTISTAS:

1.     Exercícios de emparelhamento: a tarefa aqui é comparar e emparelhar figuras (animais, plantas, brinquedos, cores, formas geométricas, objetos, etc). Você pode  usar imagens de um jogo ou fazer duas cópias fotográficas de itens que sejam idênticos. Muitas crianças com autismo gostam de jogos que envolvem números, letras e figuras e sabendo disso, podemos criar inúmeras atividades para uso em casa e na escola. Usando velcro, estes materiais podem ser afixados em alguma superfície (uma prancha de papelão, uma pasta, etc) para que a criança não se frustre caso as peças caiam ou se desorganizem.
2.     Exercícios de seleção: muitos autistas se fixam em ordem e estrutura e assim, acabam se interessando por atividades de seleção. O objetivo destes exercícios é fazer com que a criança separe determinados itens dentre outros, começando com um estímulo diferente até atingir mais variantes.
a.     Seleção de cores: Você pode começar com o uso de blocos de montar e exigir que a criança separe os vermelhos dos azuis, colocando os blocos azuis em um pote azul, e os vermelhos em um pote vermelho; em outro momento, separar os vermelhos, azuis e amarelos e assim por diante.
b.    Seleção de formas: usando a mesma estratégia do item acima, a criança poderá ter a sua disposição várias formas geométricas a serem separadas pelo critério “formas”. Cada forma vai ser colocada em uma caixa ou pote diferente.
c.     Seleção de cores e formas: neste item, a criança deverá separar itens usando dois critérios: cor e forma. Portanto, ela deverá colocar em espaços destinados os círculos azuis, os quadrados amarelos, os retângulos verdes, fazendo a seleção a partir um todo geral de formas e cores misturadas.
d.    Seleção por tamanho: a variável neste exercício é o tamanho dos objetos ou das figuras.  A criança irá selecionar os itens por grandeza, separando os itens grandes dos pequenos. A introdução do “médio”  deverá ser iniciada somente quando a criança já tiver completa noção da diferença entre maior e menor.
e.     Seleção de objetos: a criança poderá fazer a seleção por várias categorias de objetos (ou ilustrações de objetos) como “o que eu uso no banheiro” x” o que eu uso na escola”, utensílios de cozinha x materiais de higiene, etc.
3.     Quebra-cabeças: as atividades do tipo quebra-cabeça podem ser organizadas com base em um modelo já disponível para a criança como, por exemplo, algumas peças já coladas em uma base ou o contorno das peças já feitos com caneta hidrocor e numeradas para favorecer a visualização e a ordenação do material e evitar a confusão das peças soltas sobre a mesa.
4.     Atividades de montagem (tipo “Lego”): este tipo de atividade é ideal para autistas pois é possível criar algo a partir de peças que normalmente são somente empilhadas por eles. Observe que em alguns brinquedos deste tipo, modelos ilustrados já acompanham as peças e isto facilita muito para eles, pois com base na visualização da instrução, será possível acompanhar a montagem. Em alguns casos, é necessário ampliar a imagem, pois os desenhos e esquemas podem ser pequenos demais para serem usados como exemplo.

VI.            APOIOS VISUAIS PARA COMUNICAÇÃO:

Comunicação é uma troca de sinais. É sabido que grande parte do sistema comunicativo humano é não verbal o que significa que nós nos expressamos basicamente usando linguagem corporal, expressões faciais, tom de voz, olhares e gestos. A fala aparece como importante, mas não exclusivo indicador comunicativo.
Uma criança que não é autista e não tem atraso de linguagem irá se comunicar normalmente com outras pessoas usando estes sistemas e serão compreendidas por elas. Mas uma criança autista tem problemas na identificação e no uso dos sinais da comunicação além de não conseguirem mostrar com clareza as suas necessidades e experiências. O autista também pode achar complicada a comunicação de escolhas, fazer opções entre itens, negar, concordar, etc. Quando Dicte era menor e tinha uma linguagem falada muito limitada ela  expressava seus desejos por lanche ou comida usando as figuras que estavam colocadas na geladeira. Primeiro ela aprendeu a mostrar as figuras ao mesmo tempo em que o adulto sinalizava como se falava determinado item. Pouco a pouco, foi adquirindo fala e passou a pedir o que queria associando ao uso das imagens. Antes disso, Dicte era totalmente dependende do adulto.



O sistema comunicativo:

O princípio básico do sistema comunicativo é desenvolver a iniciativa da criança durante a interação. Você pode organizar os estímulos de uma forma que a criança possa pedir o item a partir da visualização tanto do que quer, quanto da imagem (ou foto, ou objeto representativo). Você pode pegar uma lata de coca cola e ensinar a criança a pedir, mostrando o refrigerante ao mesmo tempo em que mostra sua imagem e diz: “você quer coca cola? Então me peça.” Então, guie a criança até a imagem e imediatamente lhe ofereça o refrigerante. A aprendizagem da escolha é difícil e freqüentemente autistas repetem a ultima opção oferecida. Para facilitar estas escolhas, você pode começar deixando a criança escolher entre coisas desejáveis e coisas irrelevantes, mostrando uma barra de chocolate e um prendedor de roupa. Oriente sempre para a resposta desejada e se por acaso a criança lhe pedir o item irrelevante (no caso, o prendedor), o entregue imediatamente. A partir do momento que a criança sentir-se segura neste processo e entender que o que pedir, será entregue, ela passará a associar que quando pede o chocolate, o doce lhe é garantido.

Suportes visuais para interações sociais:

O sucesso em uma interação social depende de alguns comportamentos que estão deficitários nos autistas:
- dividir atenção
- Imitar
- manter um diálogo
- seguir um contexto
- trocar turnos e saber esperar
- adaptar-se aos outros
- dar e receber informações
                Apesar disso, muitos autistas gostam de estar com outras crianças. O adulto ou educador pode ajudar criando situações claras. Durante um jogo interativo você pode clarificar para a criança e seus amigos quais brinquedos pertencem a cada uma oferecendo um brinquedo para cada e favorecendo a troca. De posse de seu material, incentive a criança a imitar seus movimentos e os dos colegas, além de ensinar como esperar, como manusear o brinquedo, etc. Se a criança já fizer uso de um sistema visual, é possível criar para ela lembretes como “ficar no lugar”, “dividir o brinquedo”, “pedir emprestado”, etc. Também podemos incentivar a proximidade física oferecendo um livro para colorir sendo que cada página fica para uma criança, colocando um game no computador para que duas crianças possam jogar em dupla (e sentarem-se próximas), favorecer brincadeiras motoras que não exigem tanta abstração, mostrar livros sonoros, etc.
                Outro recurso para incentivar a comunicação e competência social é o uso das histórias. Estas podem ser usadas como ferramenta para aprimorar a linguagem, oferecem várias opções de como se comportar em diversas situações, ajudam na compreensão de mudanças tornando os eventos familiares, lidam com problemas como ansiedade, agressão e comportamento compulsivo, aumentam a atenção e ampliam vocabulário.  As histórias podem ser lidas, representadas com objetos e bonecos ou inventadas pelo adulto. O importante é não esquecer que: o uso da primeira pessoa pode facilitar a criança a experimentar-se como personagem; se for usar um texto, que ele contenha imagens e possa fazer uso de uma linguagem que enfoque o positivo como “eu vou tentar a...” ao invés de” eu não consigo...”; “vamos abraçar o amigo” ao invés de “não pode bater no amigo”; deve ser adaptado á compreensão verbal da criança evitando termos ambíguos, palavras em outras línguas, onomatopéias, frases de duplo sentido, etc. Ao contar histórias ou vivenciar situações do tipo, lembre-se no pensamento concreto e visual que comanda a cognição da criança com autismo.

Informações finais:
A proposta deste material é oferecer informações práticas sobre como iniciar um sistema de comunicação visual e rotina visualmente mediada, o que muitas pessoas acham difícil. A estrutura física e os recursos usados podem ser muito diferentes e variados e dependem do grau de informação que a criança autista consegue entender e suportar. Fotos, desenhos, cartões, figuras, objetos ou pictogramas (como os encontrados no Boardmaker TM) devem ser associados ás situações da forma mais funcional possível, sempre com a ajuda do adulto e indicando para a criança o objetivo daquela ação. Se a criança se comporta de forma inapropriada, verifique se também não é preciso arranjar algumas condutas por meio de reforçamento diferencial, modelagem ou extinção. A prática cotidiana indica que o uso de recursos estruturados para autistas provoca maior ajustamento ao meio e somente com o tempo é que podemos confirmar se uma criança se adapta melhor as imagens ilustradas, coloridas, em preto e branco, com fotos ou objetos. Nós mencionamos com freqüência a importância de fixar os materiais com velcro ou fita adesiva. Em nossa experiência, estes materiais são mais seguros que itens magnéticos ou clipes que podem ser engolidos. Também sugerimos a plastificação (com laminadoras ou papel contact) para favorecer a durabilidade e prolongar seu uso. Outras sugestões que podem ser usadas como recursos são: timers (relógios que marcam minutos, como os usados em culinária), câmeras digitais, máquina de plastificação, ColorCards® (que são cartões de linguagem sem texto e coloridos disponíveis em www.speechmark.net), cartões e sistemas do PECS (Picture Exchange Communication System publicado pela Pyramid Educational Consultants (veja em www.pecs.org.uk, www.pecs.com ou no Brasil www.clik.com.br ), Software Boardmaker™ (www.mayer-johnson.com), imagens do ISPEEK (www.ispeek.co.uk ou www.jkp.com).




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Tradução e adaptação de  Maria Elisa Granchi Fonseca

*MATERIAL TRADUZIDO PARA USO DIDÁTICO E PUBLICAÇÃO NO SITE CEDAP BRASIL. SEM FINS LUCRATIVOS.

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