A
EDUCAÇÃO DO DIA A DIA
Suportes
visuais para crianças com autismo
Pernille
Dyrbjerg and Maria Vedel
Introdução
de Lennart Pedersen
Publicado por Jessica Kingsley
Publishers London and Philadelphia 2007
Tradução
e adaptação de Maria Elisa Granchi Fonseca (2009)
:
Este
material apresenta dicas, suportes e estratégias para crianças com autismo em
termos de apoios visuais, clareza e estrutura. É baseado no trabalho integrado
entre os autores– Pernille Dyrbjerg e Maria Vedel – a partir do trabalho com
famílias e profissionais do Centro para Autistas na cidade de Copenhagen. Pernilleé
mãe de uma criança com autismo e professora especializada na área. Maria Vedel passou
grande parte de sua vida profissional em um serviço de orientação de pais de
crianças. Juntas, as duas tentaram simplificar a linguagem sobre os conceitos
do autismo na esperança de torná-los compreensíveis e acessíveis a todos os
leitores. Apesar de este material ser destinado basicamente para pais e
familiares, ele também oferece instruções valiosas para profissionais que
trabalham com crianças autistas servindo de inspiração para a criação de
espaços e propostas.
Apoios
visuais são meios altamente eficazes para aprimorar a comunicação e a
independência de pessoas com autismo, pois estes indivíduos freqüentemente têm
dificuldades básicas de compreender adequadamente a língua falada e sinais
sociais como postura corporal, gestos e contato visual. Nós, adultos, ao nos
comunicarmos com estas crianças devemos nos expressar via objetos, figuras, fotos,
imagens em geral ao invés da exclusiva palavra falada e das expressões não
verbais. Nós devemos tentar essa comunicação de forma mais simples e mais clara
usando tais apoios. Por exemplo, ao invés de usar cinco frases longas para
explicar que estamos indo ao shopping, uma foto ou figura pode reunir em uma
única imagem todas as informações que a criança autista precisa para absorver a
mesma mensagem.
O apoio
visual (seja este na forma de diagramas, agendas, cartões comunicativos,
lembretes, etc.) precisa ser tão simples que até mesmo pessoas não-autistas
possam compreender seu significado. Se nós não compreendermos estas mensagens
nós não podemos esperar que a criança autista também faça isso. Também é
preciso ter em mente que estas crianças não podem perder muito tempo na vida
sem um sistema comunicativo e os apoios visuais parecem surtir efeitos rápidos
quando usados de forma adequada e significativa.
Lembre-se
que este sistema não é comunicação real até que passe a ser de fácil acesso e
tenha função para a criança e para as pessoas ao seu redor. Enquanto estava
preparando um álbum de comunicação e rotina, Dicte, filha de Pernille, disse: “estes são os meus sinais. Antes de eu ter essas imagens tudo o que eu
fazia era chorar”.
Em todas
as idades e estágios de desenvolvimento, para adolescentes e adultos, o apoio
oferecido pelos sistemas visuais tem um grande e forte impacto. No entanto, a
forma e o tamanho destes sistemas podem variar. A criação de um ambiente
sinalizado é baseada em princípios educacionais e podem favorecer desde o
conhecimento sobre a rotina do dia até incentivar a aquisição da leitura. Ao
organizar um processo de orientação visual, pais e profissionais devem entender
que ajustes podem ser necessários entre os ambientes do lar e da escola;
No dia a
dia, o suporte visual passa a ser usado pelos pais a partir do momento em que
estes confirmam suas vantagens. É comum observar que pais só optam pelo uso
destes recursos quando seu filho autista atinge um nível alto de comportamentos
inadequados e já não conseguem controlar esta problemática. Um dos argumentos
que tanto pais quanto educadores usam com freqüência contra estes procedimentos
é que o uso destes apoios leva a uma rigidez ou a uma dependência dos recursos.
Também é comum ouvirmos profissionais argumentarem que o uso de uma rotina
estruturada pode acabar reforçando a resistência ás mudanças e que as imagens
acabam por inibir a fala. Mas a prática demonstra que estas coisas não
acontecem. O objetivo dos sistemas visuais é ajudar a criança a ter um melhor
entendimento da rotina do dia a dia e comunicar suas necessidades. Assim como
todo mundo, pessoas com autismo são diferentes entre si: alguns precisam de
estimulação e atividades constantes enquanto outros preferem uma rotina menos
dinâmica e passiva; alguns compreendem melhor sistemas organizados com
fotografias, enquanto outros precisam do objeto real para compreender a
mensagem; muitos preferem pictogramas, outros já usam listas escritas por já
estarem alfabetizados.
Estes
sistemas podem ser úteis para ajudá-los na organização do dia, para lembrá-los
sobre eventos que estão por vir, indicar a sequencia de uma tarefa e também na
instalação de dicas sociais. Mas apesar de sua grande utilidade, o uso destes
recursos não deve ser visto como uma única forma de tratamento, mas como uma
estratégia de trabalho complementar; Na maioria dos ambientes educacionais já
se espalhou o uso de uma técnica conhecida por TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication
Handicapped Children). Trata-se de um conjunto de procedimentos e recursos
que desenvolve uma narrativa coerente de como se podem incluir apoios visuais
no que denominam de “educação estruturada” e que envolve elementos importantes
para o tratamento do autismo. Sistemas visuais também são cruciais no PECS (Picture
Exchange Communication System) e também em outros métodos que usam a interação
intensiva entre formas variadas de linguagem.
Na
opinião das autoras não importa qual método ou sistema está sendo priorizado no
tratamento de autistas. O uso da visualização e os apoios sempre serão
importantes e sempre trarão vantagens para a criança e não deveriam ser
ignorados.
Por
Lennart Pedersen
Clinical
Psychologist, Centre for Autism
www.centerforautisme.dk
Prefácio:
Ao
escrever este material nós esperamos preencher uma lacuna na literatura
disponível, mas também inspirar outras pessoas a usarem suportes visuais e
apoios estruturados para reduzir problemas que crianças autistas vivenciam na
vida diária. Aqui, oferecemos muitos exemplos de dicas visuais usadas na vida
de Dicte, filha de Pernille. Estes apoios estão ajudando Dicte desde que ela
tinha 3 anos de idade e continuam sendo usados até hoje quando ela está com 7.
Os suportes foram sendo modificados ao longo do desenvolvimento de Dicte e na
medida em que seu nível de compreensão e comunicação foi se aprimorando. Também
é possível encontrar exemplos usados por crianças cujo desenvolvimento de
alguma maneira difere do de Dicte. Escolhemos exemplos que, em nossa
experiência, destacam partes significativas da informação a ser comunicada e
assim, ajudar a criança com autismo a obter um entendimento maior em cada
situação.
Usando estes exemplos, esperamos mostrar uma
variedade de apoios e dicas visuais possíveis, pois em nossa crença tais
recursos são ferramentas importantes para a família e para os educadores que
acompanham a criança. Torcemos também para que esta leitura sirva de inspiração
para qualquer pessoa que tenha interesse e motivação para começar e que outros
familiares tais como irmãos, avós e amigos próximos também achem utilidade em
nosso material.
por .Pernille Dyrbjerg e Maria Vedel
INTRODUÇÃO
Sobre o
autismo:
Autismo
é definido como uma desordem severa do desenvolvimento caracterizada por
déficits na comunicação e linguagem, problemas com comportamento social, além
de condutas repetitivas e estereotipadas. A síndrome de Asperger é
freqüentemente relacionada como uma forma branda de autismo, mas é mais cauteloso
dizer que se trata de um autismo em pessoas com um nível de inteligência normal
e quando não se observa atraso na aquisição da linguagem inicial.
Crianças
com autismo e também aquelas com Asperger apresentam os mesmos déficits psicológicos e os princípios
educacionais para ambos os quadros são similares. O autismo não tem cura, mas
muitas das dificuldades podem ser aliviadas pela educação tendo como ponto de
partida o destaque e a clareza de aspectos essenciais da informação que se
pretende passar á criança. Os apoios visuais são partes óbvias escolhas para
isto.
A
necessidade de informações claras ocorre em situações em que todos nós
experimentamos. A maioria das pessoas espera instruções claras e concisas
quando alguém lhe passa direções ou quando usa um mapa rodoviário. Precisamos
de um guia turístico para nos indicar onde visitar ou como se portar diante de
uma nova cultura ou país; e nós também usamos manuais ou guias para conhecermos
o funcionamento de um equipamento novo. No entanto, quando o alvo comunicativo
é uma criança com autismo, a necessidade de dicas visuais é infinitamente
maior. Ela precisa de instruções claras que a oriente por onde começar e como
terminar as mais simples situações do dia a dia: um guia para compreender o
mundo social e um manual de
orientação sobre a rotina do dia e útil para funções como vestir-se, despir-se,
tomar banho, etc.
.
Considerações sobre as consequências psicológicas e sociais do
autismo:
A criança autista tem dificuldades para ver a imagem como um
todo e, por conseguinte sempre se foca nos detalhes. Para ajudá-la a entender e
reagir, é importante usar imagens que representem a essência da informação. Por
exemplo, isso pode ser feito organizando o ambiente físico, por meio de uma
agenda ilustrada ou mural de comunicação.
Prever a seqüência dos eventos e atividades também é difícil no
autismo e sendo assim, listas previsíveis como uma agenda diária indicando o
que vai acontecer e a ordenação visual das atividades a serem feitas são
recursos muito funcionais por suprirem essa falha.
A criança autista também pode ter dificuldades em transferir
(generalizar) experiências de uma situação para outra. Oferecer um sistema
visual pode ajudar na independência em diferentes situações.
A criança autista pode ter dificuldades em compreender a
linguagem falada – palavras que são compreendidas em um contexto podem não ser
em outros, a não ser que ela tenha boas habilidades lingüísticas ainda que não
fale. É neste contexto que os recursos adaptativos visuais orientam a
compreensão da linguagem a ponto de incentivar a compreensão das palavras mais
rapidamente, pois estabelece uma conexão entre o que se houve e o que se vê.
A criança autista pode ter problemas para compreender conteúdos
emocionais, isto é, compreender e interpretar o que outras pessoas pensam,
sentem e supõem. Por isso, situações estruturadas podem ensinar a criança como
se comunicar e interagir socialmente, identificando os códigos sociais
implícitos nas situações.
I.
O ARRANJO FÍSICO DO
AMBIENTE:
Uma criança que não consegue compreender as conexões
e significados de seu mundo freqüentemente cria sua própria regra como, por
exemplo, querendo assistir a mesma parte de um DVD ou demonstrando grande
interesse em algo muito específico. Neste caminho, a criança tenta lutar contra
o caos criado pela sua própria previsibilidade.
A proposta de um ambiente claro e estruturado é
limitar este caos tanto quanto for possível e torná-lo mais fácil de ser
compreendido para que a criança entenda o que está para acontecer. A estrutura física precisa ser simples com mensagens óbvias
relacionadas com o que deve ser feito e em qual lugar. Se possível, é útil ter
lugares diferentes para tarefas diferentes, ou seja, o lugar para o almoço
sempre será a cozinha; trocar de roupa, sempre no quarto; assistir DVD sempre
na mesma sala, etc. Em uma escola ou instituição, o mesmo ambiente é
normalmente usado para muitas atividades diferentes por falta de espaço físico
suficiente. Para compensar esta situação, o educador pode colocar um tapete ou
colchonete no chão sempre que a criança for brincar variar cores de toalhas nas
mesas para sinalizar mudanças de tarefas, usarem copos de tamanhos diferentes
para bebidas diferentes, etc.
Muitos
autistas não conseguem permanecer focadas naquilo que estão fazendo e uma
imagem ou objeto pode lembrá-los a manter-se na tarefa. Com a atenção
assegurada eles se poupam das interrupções ou ações impulsivas.
Posicionando a agenda diária: a agenda
diária de Dicte foi colocada em uma área central da casa por ser de fácil
acesso e alertar para qualquer mudança.
Suporte visual para alimentação: os momentos de alimentação ficaram muito mais práticos e fáceis
para Dicte a partir do momento em que seu nome foi colocado em uma cadeira
junto com uma figura indicativa de “comer”.
Inicialmente a figura foi apresentada a ela para que pudesse ser manipulada e
sugerisse que a hora de se alimentar seria a próxima atividade e também para
ensiná-la a emparelhar com uma figura idêntica que estava em sua cadeira.
Quarto: a clareza e a estrutura
feita no quarto de Dicte fizeram com que ela se sentisse mais segura e não
menos confortável do que qualquer outra garota. Os brinquedos foram colocados
em caixas com fotos identificadoras. Muitos estímulos visuais ao mesmo tempo
podem criar um “barulho visual” e potencializar o caos. Pode ser mais fácil
selecionar um brinquedo olhando para uma foto do que fazer a escolha de um item
misturado com tantos outros. Estantes abertas com muitos brinquedos podem
confundir muitos autistas e fazem com que a escolha fique quase sempre no mesmo
item. Quando as figuras passaram a identificar as caixas e gavetas, Dicte
passou a permanecer mais tempo em seu quarto brincando, pois a organização
promoveu a estrutura que ela tanto precisava. Uma cortina transparente foi
colocada na porta de entrada do quarto. Dicte não gostava de portas fechadas,
mas é importante que se tenha algum tipo de limite entre o quarto e outros
cômodos da casa. Esse recurso possibilitou para a criança ouvir onde os adultos
estavam enquanto brincava em seu espaço.
.
Hora de dormir: quando Dicte
era menor, era muito útil para ela fazer a checagem da hora de dormir mediante
o emparelhamento de duas figuras iguais (“cama”). Uma ficava em sua agenda no
centro da casa, e a outra colocada próxima de sua cama. Ela então sabia que
estava indo dormir e não brincar ao entrar no quarto. Atualmente,
ela não precisa mais emparelhar as figuras, mas pediu para que o cartão ficasse
em sua cama.
Espaço sob a escada (ou outra área da casa): é uma boa idéia criar um espaço de lazer em uma parte da casa
para a criança que quer ou precisa estar perto dos adultos. Neste espaço, a
criança pode ter seus brinquedos organizados e brincar sozinha enquanto os pais
podem levar adiante suas tarefas sem perdê-la de vista. Também pode ser
colocado um limite visual (como uma fita adesiva colorida ao chão) para
encorajar a criança a ficar dentro desta área designada.
Ajuda para lembrar para onde se está indo (transições): você pode ajudar a criança a lembrar para onde ela está indo
fazendo com que ela segure uma figura ao começar uma nova atividade. Ao chegar
ao destino, esta figura é colocada junto com outra figura igual que já está
fixa (emparelhadas). Este recurso facilita a concentração e descarta outros estímulos
que possam interferir na rota.
II.
A
AGENDA:
O
objetivo de uma agenda diária é tornar o dia mais compreensivo para a pessoa
com autismo. Esta agenda irá enfatizar o que acontecerá em uma seqüência do dia
ou indicar possíveis mudanças na rotina: nós vamos visitar a casa da vovó ou a
casa da madrinha? Vamos ao shopping ou ao dentista? É hora de brincar ou de
assistir televisão? A agenda é o recado do adulto para a criança sobre o que
irá acontecer ao longo do dia. A criança que não tem esta informação tentará
fazer seus próprios planos. Isto pode criar incertezas e frustrações para a
criança quando o que foi programado por ela não coincide com o que o adulto
programou. Para selecionar os cartões que irão para a agenda, é preciso saber
como a criança irá lidar com o material (por ex: que tipo de estímulos
reconhece?). Sendo assim, uma criança que é muito ansiosa deverá ter uma agenda
que inicie com poucos estímulos (não mais que duas peças de informação por
vez), pois a visuallização de muitas atividades ou tarefas pode fazer com que
ela retire os cartões, manipule no momento errado, ou fique mais ansiosa ao
verificar que só no final da tarde irá para a aula de natação. Com o tempo,
você irá colocando mais informação, item por item, até completar uma rotina
completa. Por outro lado, temos crianças que já conseguem, desde o princípio,
lidar com uma agenda diária que ilustre todos os passos da manhã até a noite.
A
agenda diária pode contem os seguintes estímulos: objetos, fotografias,
desenhos, figuras, escrita, calendário, etc. A forma a ser escolhida irá
depender daquilo que fizer mais sentido para a criança, pois autistas podem
precisar de diversas formas de comunicação ao longo da vida e o mais importante
é que o sinal tenha significado para o usuário. A informação deve sempre ser
oferecida usando o meio usual da direção da escrita (da direita para a
esquerda/ de cima para baixo).
O
uso da agenda pode ajudar a criança autista a se manter informada sobre a
rotina de forma independente e em muitas situações é mais funcional saber o que
será feito a seguir do que receber “surpresas” que podem gerar condutas
inadequadas.
Manuseando a agenda:
É preciso estar claro para a criança quais itens da
sua agenda já foram cumpridos e para isso é importante ativar algum mecanismo
que ofereça esta dica para que se tenha esta referência. Isso pode ser feito
retirando o cartão do que ela já fez (e colocando em um depósito só para isso,
como uma caixinha ou envelope), virando o cartão ou riscando o item com um “X”
(em caso de agenda escrita).
Usando objetos concretos:
Crianças autistas pequenas e aquelas que ainda não
discriminam imagens são beneficiadas pelo uso de agendas com objetos
(concretas). Uma criança é preparada para usar um objeto como mediador da
comunicação primeiramente sendo apresentada ao item ao mesmo tempo em que este
é usado na ação ou tarefa. Por exemplo: um sabonete
é mostrado para a criança ao mesmo tempo em que se dirige ao banheiro para o
banho. Não devemos mostrar o sabonete sem que haja uso para ele pois isso gera
confusão na questão da função do objeto para a criança. O uso de objetos reais
é muito útil para demonstrar e clarificar a mensagem deixando a criança usar
dois sentidos ao mesmo tempo: olhar
para o item e tocá-lo a fim de
conhecer suas características físicas. Como Dicte já reconhecia figuras, sua
primeira agenda foi muito simples. Ela retirava a imagem da agenda e se dirigia
até a atividade para executá-la. Chegando ao ambiente, este cartão era colocado
em uma cesta e a tarefa estava pronta para começar.
A agenda móvel: uma agenda pode ficar tanto fixa (na
parede, geladeira, portas, etc) quanto ser móvel. A agenda móvel tem a
facilidade de poder ser levada para qualquer lugar sendo que o conteúdo será
ajustado ao ambiente e função. Pode ser confeccionada como uma faixa de papelão
plastificada, os cartões podem ser colocados em sequência e presos por um anel
de chaveiro ou mesmo colocados em um álbum. Para crianças que já possuem um
nível de leitura, você poderá usar palavras escritas como em um diário normal.
Pausas: para muitos autistas, pode
ser difícil não ficar atarefado ou ocupado com alguma coisa, mas sabemos que
pausas ao longo do dia são fundamentais para o relaxamento e descanso. Usando
alguns estímulos, a noção de “parar” e “descansar” pode ser indicada por meio
de imagens como TV, sofá, cama, rede, rádio, etc.
A agenda escolar de Dicte: Dicte
gosta de saber se é dia de aula ou não. Ela não tem a agenda escolar semanal completa
de uma vez, mas somente um dia por vez.
Este meio faz com que ela não gaste energia à toa tentando se lembrar do curso
de uma semana inteira.
A agenda semanal: muitas
crianças autistas precisam saber quando as coisas acontecerão ao longo de uma
semana, Para evitar que fiquem perguntando a todo o momento sobre determinada
aula, passeio ou atividade, o uso de uma agenda semanal pode facilitar esta
compreensão. Você pode usar um calendário ilustrado ou mesmo deixar uma agenda
já pronta com itens que acontecerão de segunda a domingo.
A agenda anual: todas as
famílias têm aniversários, festas, férias e feriados que precisam ser
considerados. Uma agenda anual oferece uma visão geral de todos estes eventos e
mudanças de estações. A agenda de Dicte tem indicações coloridas para que ela
possa acompanhar as mudanças nas estações do ano. Uma flecha é colocada para
destacar o ano, o mês e o dia em que o evento acontecerá.
III.
A PREPARAÇÃO PARA OCASIÕES ESPECIAIS:
Quando a criança passa a receber as informações via
apoio visual torna-se mais fácil prepará-la para eventos especiais que poderiam
ser difíceis de comunicar por outro sistema como uma viagem de férias, período
natalino, funerais, aniversários, etc. Pode ser mais fácil levar uma criança
autista a novos lugares sem preparação prévia quando esta ainda é pequena, mas
conforme vai crescendo suas demandas para compreender o que passa ao seu
entorno também aumenta. Ocasiões inesperadas podem exigir mais preparo do que
aquelas que já estão rotineiramente dispostas em sua agenda. É importante que
se coloque em uma agenda de férias, por exemplo, quantas noites a família
ficará fora de casa ou em outra cidade, ou indicar quanto tempo ainda resta
para a chegada de um parente ou para a festa de Natal. Se a criança tem mais
sensibilidade auditiva e se desorganiza com barulhos, é importante avisá-la que
haverá alguém tocando órgão na igreja ou que na festa da escola haverá uma
banda tocando.
Outros
usos para a agenda: diante
dos exemplos colocados, é possível variar o uso das agendas nas mais diferentes
situações. Você pode usá-la para sinalizar uma visita, uma noite fora de casa,
uma viagem, o que vai acontecer na festa de aniversário (por exemplo:
convidados chegando, abrir presentes, guardar presentes, comes, bebes,
parabéns, etc.)
IV.
ORIENTAÇÃO PARA A AQUISIÇÃO DE NOVAS HABILIDADES:
Crianças sem autismo frequentemente aprendem novas
habilidades ao se compararem e imitarem outras crianças. Mas muitos autistas
não mostram iniciativa para a aprendizagem de coisas novas e precisam de ajuda e
mais experiência para obter independência. Uma vez aprendido o conceito de “primeiro isso, depois aquilo” obtido por
meio do uso da agenda você pode transferir este recurso para ensinar outras
habilidades. Figuras ou objetos estão organizados em uma ordem cronológica e
temporal na agenda e esta forma de indicação poderá ser usada, por exemplo,
para ensinar os dias da semana, os meses, as letras do alfabeto, etc. Pode ser
difícil para o autista relacionar experiências de uma situação para outra.
Usando os sinais visuais a criança é guiada a se tornar mais flexível. Adiar
uma atividade ou situação desejada é difícil para qualquer pessoa. Por isso, a
visualização do que se espera pode reduzir a frustração e a ordem “primeiro
tomar banho, depois assistir o DVD” pode ser mais tranqüila de ser obedecida.
Quando Dicte aprendeu que as ilustrações indicavam a ordem das coisas, foi
possível organizar vários momentos do dia. Em seu álbum, existem nove páginas
dedicadas à hora da piscina. Muitos autistas gostam de piscina, mas parece ser
difícil para eles lidarem com detalhes do tipo tomar a ducha antes de entrar,
passar protetor solar, colocar a bóia e sair da água. Para Dicte, o uso destas
ordens transformadas em imagens funcionou.
Também o uso deste sistema foi eficaz para ensinar
Dicte a trocar de roupa sozinha. Para muitos autistas, a situação mais difícil
neste momento é se organizar na ordem de colocação das vestimentas. Colocando
as roupas em ordem e as imagens da direita pra esquerda, ela aprendeu que primeiro se veste a meia pra depois colocar o sapato (generalizando o
conceito de primeiro isto, depois aquilo).
Idem para a situação de lavar ou não os cabelos durante o banho e organizar uma
receita culinária. A partir do procedimento denominado “análise de tarefas”,
cada passo da receita foi ilustrado de forma que Dicte conseguir ajudar na
preparação de bolos, panquecas, salada de frutas e também organizar a mesa para
as refeições. Assim, pensando na receita do bolo de chocolate, uma imagem para
cada etapa foi criada e disposta á vista de Dicte (pegar os utensílios –
quebrar dois ovos – duas colheres de fermento – 2 copos de leite,etc.)
V.
ATIVIDADES ESTRUTURADAS:
As imagens a seguir mostram caminhos para a
estruturação de atividades que permitirão a criança com autismo se ocupar de
forma independente por períodos de tempo. Nem todas as crianças precisam de
tamanha estrutura, mas todas podem aprender a usá-las. Os aspectos importantes
são a organização física e disposição dos itens em caixas, cestas, pranchas,
pastas, e que sejam atividades motivadoras e fáceis para a criança. O objetivo
da atividade não é simplesmente aprender algo novo, mas executar algo que já
saiba fazer sem a supervisão de um adulto. Para se ensinar uma nova tarefa, o
adulto precisa estar por perto para poder orientar e guiar de forma a obter
sucesso. A razão para a organização do material em recipientes próprios é para
que o volume de atividades ou jogos não seja tão estimulador para a criança e
que os itens já usados possam ser guardados novamente a fim e evitar a
distração. Se a criança não quiser executar ou resistir, pode ser por causa da
dificuldade da tarefa sendo difícil a execução sem ajuda, Se de início a
criança não puder enxergar a proposta da atividade, você poderá colocar algo
extremamente motivador na última caixa ou cesta – como um filme favorito, o
brinquedo que mais gosta ou uma barra de chocolate- funcionando como reforço.
Quando a criança já tiver entendido a forma de trabalhar e o adulto se lembrar
de variar as tarefas sem necessariamente torná-las mais difíceis, este tipo de
procedimento pode ser muito relaxante. Muitas crianças aprendem a se manterem
sentadas por mais tempo quando são orientadas a seguir uma seqüência de
atividades interessantes.
Você pode arrumar um espaço na sala ou no quarto com
uma pequena mesa para a criança executar as tarefas. Em cada caixa, deixe
separado um número limitado de jogos ou atividades. A ordem do trabalho está
sendo demonstra em um mural fixo na mesa usando para isso, itens ilustrados ou
numéricos dispostos na sequência. Primeiro a caixa número 1 será usada; depois
a etiquetada com o número 2 e finalmente a de número 3. Os cartões com os
números (ou cores, ou figuras) estão colocados na mesa com velcro de forma que
a criança pode fazer o emparelhamento na busca de qual caixa corresponderá ao
item que está em sua mesa.
ATIVIDADES FUNCIONAIS PARA CRIANÇAS AUTISTAS:
1. Exercícios de emparelhamento: a tarefa aqui é comparar e emparelhar figuras
(animais, plantas, brinquedos, cores, formas geométricas, objetos, etc). Você
pode usar imagens de um jogo ou fazer
duas cópias fotográficas de itens que sejam idênticos. Muitas crianças com
autismo gostam de jogos que envolvem números, letras e figuras e sabendo disso,
podemos criar inúmeras atividades para uso em casa e na escola. Usando velcro,
estes materiais podem ser afixados em alguma superfície (uma prancha de
papelão, uma pasta, etc) para que a criança não se frustre caso as peças caiam
ou se desorganizem.
2. Exercícios de seleção: muitos autistas se fixam em ordem e estrutura e assim, acabam se
interessando por atividades de seleção. O objetivo destes exercícios é fazer
com que a criança separe determinados itens dentre outros, começando com um
estímulo diferente até atingir mais variantes.
a. Seleção de cores: Você pode começar
com o uso de blocos de montar e exigir que a criança separe os vermelhos dos
azuis, colocando os blocos azuis em um pote azul, e os vermelhos em um pote
vermelho; em outro momento, separar os vermelhos, azuis e amarelos e assim por
diante.
b. Seleção de formas: usando a mesma
estratégia do item acima, a criança poderá ter a sua disposição várias formas
geométricas a serem separadas pelo critério “formas”. Cada forma vai ser
colocada em uma caixa ou pote diferente.
c. Seleção de cores e formas: neste item,
a criança deverá separar itens usando dois critérios: cor e forma. Portanto,
ela deverá colocar em espaços destinados os círculos azuis, os quadrados
amarelos, os retângulos verdes, fazendo a seleção a partir um todo geral de
formas e cores misturadas.
d. Seleção por tamanho: a variável neste
exercício é o tamanho dos objetos ou das figuras. A criança irá selecionar os itens por
grandeza, separando os itens grandes dos pequenos. A introdução do “médio” deverá ser iniciada somente quando a criança
já tiver completa noção da diferença entre maior e menor.
e.
Seleção
de objetos: a criança poderá fazer a seleção por várias categorias de objetos
(ou ilustrações de objetos) como “o que eu uso no banheiro” x” o que eu uso na
escola”, utensílios de cozinha x materiais de higiene, etc.
3. Quebra-cabeças: as atividades do tipo quebra-cabeça podem ser organizadas com
base em um modelo já disponível para a criança como, por exemplo, algumas peças
já coladas em uma base ou o contorno das peças já feitos com caneta hidrocor e
numeradas para favorecer a visualização e a ordenação do material e evitar a
confusão das peças soltas sobre a mesa.
4. Atividades de montagem
(tipo “Lego”): este tipo de atividade é ideal
para autistas pois é possível criar algo a partir de peças que normalmente são
somente empilhadas por eles. Observe que em alguns brinquedos deste tipo,
modelos ilustrados já acompanham as peças e isto facilita muito para eles, pois
com base na visualização da instrução, será possível acompanhar a montagem. Em
alguns casos, é necessário ampliar a imagem, pois os desenhos e esquemas podem
ser pequenos demais para serem usados como exemplo.
VI.
APOIOS VISUAIS PARA COMUNICAÇÃO:
Comunicação
é uma troca de sinais. É sabido que grande parte do sistema comunicativo humano
é não verbal o que significa que nós nos expressamos basicamente usando
linguagem corporal, expressões faciais, tom de voz, olhares e gestos. A fala
aparece como importante, mas não exclusivo indicador comunicativo.
Uma
criança que não é autista e não tem atraso de linguagem irá se comunicar
normalmente com outras pessoas usando estes sistemas e serão compreendidas por
elas. Mas uma criança autista tem problemas na identificação e no uso dos
sinais da comunicação além de não conseguirem mostrar com clareza as suas
necessidades e experiências. O autista também pode achar complicada a
comunicação de escolhas, fazer opções entre itens, negar, concordar, etc. Quando
Dicte era menor e tinha uma linguagem falada muito limitada ela expressava seus desejos por lanche ou comida
usando as figuras que estavam colocadas na geladeira. Primeiro ela aprendeu a
mostrar as figuras ao mesmo tempo em que o adulto sinalizava como se falava
determinado item. Pouco a pouco, foi adquirindo fala e passou a pedir o que
queria associando ao uso das imagens. Antes disso, Dicte era totalmente
dependende do adulto.
O sistema comunicativo:
O
princípio básico do sistema comunicativo é desenvolver a iniciativa da criança
durante a interação. Você pode organizar os estímulos de uma forma que a
criança possa pedir o item a partir da visualização tanto do que quer, quanto
da imagem (ou foto, ou objeto representativo). Você pode pegar uma lata de coca
cola e ensinar a criança a pedir, mostrando o refrigerante ao mesmo tempo em
que mostra sua imagem e diz: “você quer
coca cola? Então me peça.” Então, guie a criança até a imagem e
imediatamente lhe ofereça o refrigerante. A aprendizagem da escolha é difícil e
freqüentemente autistas repetem a ultima opção oferecida. Para facilitar estas
escolhas, você pode começar deixando a criança escolher entre coisas desejáveis
e coisas irrelevantes, mostrando uma barra de chocolate e um prendedor de
roupa. Oriente sempre para a resposta desejada e se por acaso a criança lhe
pedir o item irrelevante (no caso, o prendedor), o entregue imediatamente. A
partir do momento que a criança sentir-se segura neste processo e entender que
o que pedir, será entregue, ela passará a associar que quando pede o chocolate,
o doce lhe é garantido.
Suportes
visuais para interações sociais:
O
sucesso em uma interação social depende de alguns comportamentos que estão
deficitários nos autistas:
- dividir atenção
- Imitar
- manter um
diálogo
- seguir um
contexto
- trocar turnos e
saber esperar
- adaptar-se aos
outros
- dar e receber
informações
Apesar disso, muitos autistas
gostam de estar com outras crianças. O adulto ou educador pode ajudar criando
situações claras. Durante um jogo interativo você pode clarificar para a
criança e seus amigos quais brinquedos pertencem a cada uma oferecendo um
brinquedo para cada e favorecendo a troca. De posse de seu material, incentive
a criança a imitar seus movimentos e os dos colegas, além de ensinar como
esperar, como manusear o brinquedo, etc. Se a criança já fizer uso de um
sistema visual, é possível criar para ela lembretes como “ficar no lugar”,
“dividir o brinquedo”, “pedir emprestado”, etc. Também podemos incentivar a
proximidade física oferecendo um livro para colorir sendo que cada página fica
para uma criança, colocando um game no computador para que duas crianças possam
jogar em dupla (e sentarem-se próximas), favorecer brincadeiras motoras que não
exigem tanta abstração, mostrar livros sonoros, etc.
Outro recurso para incentivar a
comunicação e competência social é o uso das histórias. Estas podem ser usadas
como ferramenta para aprimorar a linguagem, oferecem várias opções de como se
comportar em diversas situações, ajudam na compreensão de mudanças tornando os
eventos familiares, lidam com problemas como ansiedade, agressão e
comportamento compulsivo, aumentam a atenção e ampliam vocabulário. As histórias podem ser lidas, representadas
com objetos e bonecos ou inventadas pelo adulto. O importante é não esquecer
que: o uso da primeira pessoa pode facilitar a criança a experimentar-se como
personagem; se for usar um texto, que ele contenha imagens e possa fazer uso de
uma linguagem que enfoque o positivo como “eu
vou tentar a...” ao invés de” eu não
consigo...”; “vamos abraçar o amigo” ao invés de “não pode bater no amigo”; deve ser adaptado á compreensão
verbal da criança evitando termos ambíguos, palavras em outras línguas,
onomatopéias, frases de duplo sentido, etc. Ao contar histórias ou vivenciar
situações do tipo, lembre-se no pensamento concreto e visual que comanda a
cognição da criança com autismo.
Informações finais:
A
proposta deste material é oferecer informações práticas sobre como iniciar um
sistema de comunicação visual e rotina visualmente mediada, o que muitas
pessoas acham difícil. A estrutura física e os recursos usados podem ser muito
diferentes e variados e dependem do grau de informação que a criança autista
consegue entender e suportar. Fotos, desenhos, cartões, figuras, objetos ou
pictogramas (como os encontrados no Boardmaker
TM) devem ser associados ás situações da forma mais funcional
possível, sempre com a ajuda do adulto e indicando para a criança o objetivo
daquela ação. Se a criança se comporta de forma inapropriada, verifique se
também não é preciso arranjar algumas condutas por meio de reforçamento
diferencial, modelagem ou extinção. A prática cotidiana indica que o uso de
recursos estruturados para autistas provoca maior ajustamento ao meio e somente
com o tempo é que podemos confirmar se uma criança se adapta melhor as imagens
ilustradas, coloridas, em preto e branco, com fotos ou objetos. Nós mencionamos
com freqüência a importância de fixar os materiais com velcro ou fita adesiva.
Em nossa experiência, estes materiais são mais seguros que itens magnéticos ou
clipes que podem ser engolidos. Também sugerimos a plastificação (com
laminadoras ou papel contact) para favorecer a durabilidade e prolongar seu
uso. Outras sugestões que podem ser usadas como recursos são: timers (relógios que marcam minutos,
como os usados em culinária), câmeras digitais, máquina de plastificação, ColorCards®
(que são cartões de linguagem sem texto e coloridos disponíveis em www.speechmark.net),
cartões e sistemas do PECS (Picture Exchange Communication System
publicado pela Pyramid Educational Consultants (veja em www.pecs.org.uk, www.pecs.com
ou no Brasil www.clik.com.br ), Software Boardmaker™ (www.mayer-johnson.com), imagens do
ISPEEK (www.ispeek.co.uk ou www.jkp.com).
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Tradução
e adaptação de Maria Elisa Granchi
Fonseca
*MATERIAL
TRADUZIDO PARA USO DIDÁTICO E PUBLICAÇÃO NO SITE CEDAP BRASIL. SEM FINS
LUCRATIVOS.
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